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Por Tony Reinke[1]


O pecado no Éden lançou toda a criação no caos. O pecado em Babel marcou o orgulho coletivo da humanidade. E enquanto todo pecado é um ato de rejeição a Deus, a maldade da humanidade atinge um novo patamar nos terríveis acontecimentos da Sexta-feira Santa.

A Semana Santa nos incomoda. Há uma gloriosa vida e vitória ao chegar o domingo de Páscoa, mas para chegar lá é preciso passar diretamente através da escuridão da Sexta-feira Santa. Nós devemos lembrar o dia em que a malícia humana quebrou barreiras e atingiu níveis de atrocidade anteriormente incomparável. O Messias, o Rei, veio para salvar a humanidade, foi pregado a um madeiro maldito e foi deixado lá para morrer.

Não há imunidade para tamanha traição cósmica.

Na sexta-feira que sentimos o dedo da culpa apontado diretamente para as costelas da humanidade:

"...a esse Jesus, a quem vós crucificastes..." (Atos 2:36)
"... Mas vós negastes o Santo e o Justo, e pedistes que se vos desse um homem homicida. E matastes o Príncipe da vida, ao qual Deus ressuscitou dentre os mortos, do que nós somos testemunhas..." (Atos 3:14-15)
"...em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, aquele a quem vós crucificastes..." (Atos 4:10)
"O Deus de nossos pais ressuscitou a Jesus, ao qual vós matastes, suspendendo-o no madeiro." (Atos 5:30)

A humanidade nunca amontoou sobre si mais auto-condenação e culpa do que na sexta-feira santa. Esta simples frase - você matou - penetra através de todas as desculpas vãs. Foi uma conspiração para matar o homem-Deus, e o sucesso dessa trama perversa tem manchado as nossas mãos com o sangue de próprio Deus, sangue nas mãos de ambos, dos conspiradores judeus e dos gentios que concordaram.

É por isso que Sexta-Feira Santa foi o pecado mais terrível que o mundo já testemunhou (Sibbes). Mais terrível do que a arrogante torre de Babel. Se já houve motivo para Deus derramar ira sobre o mundo, e re-inundar do mundo com justiça, não houve um momento mais oportuno do que o massacre brutal de seu Filho amado.

Em seu sermão sobre a Sexta-feira Santa de 1928, Dietrich Bonhoeffer martela esta tragédia cósmica como se martelasse estacas de aço frio através dos nervos dos próprios pulsos da humanidade.

Sexta-feira Santa não é a escuridão que deve, necessariamente, ceder a luz. Não é o sono de inverno que contém e alimenta a semente da vida. É o dia em que os seres humanos - seres humanos que queriam ser como deuses - mataram o Deus que se fez homem, o Amor que se tornou pessoa; o dia em que o Santo de Deus, isto é, o próprio Deus, morreu, verdadeiramente morreu - voluntariamente e ainda assim por causa da culpa humana - sem qualquer semente de vida restante nele de tal forma que a morte de Deus pode se parecer com o sono.
Sexta-feira Santa não é, como o inverno, uma fase de transição - não, sexta-feira santa é realmente o fim, o fim da humanidade culpada e o julgamento final que a humanidade tem pronunciado sobre si mesma. . . .
Se a história de Deus entre os seres humanos teve fim na sexta-feira, então o pronunciamento final sobre a humanidade seria a culpa, rebelião, o libertar de todas as forças titânicas humanas, um assalto ao céu por seres humanos, impiedade, o abandono de Deus mas, em última análise, sem sentido. Então a sua fé é inútil. Então você ainda está na sua culpa. Então, nós estamos entre as pessoas mais infelizes. Isto é, o que a palavras ‘seres humanos’ significa.
Este é a terrível memória que a Sexta-feira Santa nos trás.

A humanidade, aspirando, em arrogância, a tornar-se divina, matou o Deus-homem por intenção homicida ou pela passividade. E neste crime, Bonhoeffer passa a explicar, todo o resto foi feito em vão. Todo a nossa cultura, toda a nossa arte, toda a nossa aprendizagem, todas as nossas esperanças, tem se tornado sem sentido uma vez que temos amontoados sobre as nossas cabeças o assassinato do filho único de Deus.

Graças a Deus, a história não termina aqui, mas a Sexta-feira Santa nos  força a imaginar se isso tivesse acontecido. E se a história terminasse na cruz? E se o pecado, da humanidade de rejeitar a Deus tivesse gerado desespero para a vida agora e nada menos do que o desespero de abandono divino para a eternidade?

Divinas palavras de acusação são lançadas na humanidade:

Vocês levantaram ao redor dele uma parede de ódio infundado e de mentiras cruéis (Salmo 69:4).
Vocês o rodearam como cães raivosos (Salmo 22:16).
Vocês emboscaram o seu filho amado (Marcos 12:1-9).
Vocês mataram o Autor da Vida (Atos 3:15).

Deixe estas palavras duras doerem enquanto nós consideramos por um momento como estúpido, tolo, ignorantes e perverso é o coração humano por ter trazido este fim para a história humana - o dia mais sombrio da humanidade, o ápice da ignorância humana, uma situação tão sem esperança que a história humana parece ter sido levada ao seu fim. O que agora podemos esperar, além de desespero e desolação eterna para sempre?

Mas a humanidade pecadora não tem a última palavra. Quão apropriada é a oração do Cristo cruscificado - "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem" (Lucas 23:34).

Como raça humana, pouco conseguimos compreender o que temos feitos, o que temos desencadeado na ignorância do mal.

Fonte: Desiring God.
[1] Tony Reinke (@ tonyreinke) é um estrategista de conteúdo no Desiring God, blogueiro, e autor.

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