Existe um estado
perpétuo de guerra entre Cristo, o campeão de Deus, e o diabo, o príncipe deste
mundo (cf. Gn 3.15). Mateus 4.1-11 fala sobre uma das grandes vitórias de
Cristo sobre o diabo e o poder do pecado. Ao final de um longo período de
jejum, o diabo confronta Jesus com três tentações.
Ordena
a estas pedras
Na primeira
destas tentações, o diabo usa a mesma tática que usou com Eva, no Jardim do
Éden. “Se és Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães”
(4.3). Satanás está se referindo às palavras faladas pelo Pai no batismo de
Jesus: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo” (Mt 3.17). Com efeito,
Satanás diz: “É, Deus disse...? Você realmente acha que Deus quer dizer que você
é o Filho de Deus? Se você é, porque a fome dói agora? Prove que você é o Filho
de Deus tornando estas pedras em pão”.
O diabo é
esperto; ele sabe que a fome é uma espada afiada. E ele sabe como usar a
verdade em vantagem própria. Afinal, Deus pode fazer todas as coisas; Ele é
todo poderoso. Se Jesus é o Filho de Deus, Ele deve ser todo poderoso também.
Tudo o que Ele
tem de fazer é falar uma palavra, e uma mesa será preparada para Ele no
deserto.
Jesus não cede
ao diabo. Ele se recusa a usar seu poder divino para aliviar sua fome física,
escolhendo em vez disso fazer a vontade de seu Pai, e suportar o sofrimento. “Está
escrito, não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca
de Deus” (Mt. 4.4), Jesus diz ao diabo. Ele cita Deuteronômio 8.3 e diz, com
efeito: “Pão não é suficiente. Eu sou dependente de meu
Pai e de sua palavra,
não de pão. Eu vivo da sua mão. Eu não quero pão, se meu Pai não quiser dá-lo a
mim”.
Jesus se recusa
a separar a dádiva do pão daquele que é o Doador do pão, ao contrário do que
Adão fez. Adão empurrou de lado o Doador do fruto ao estender sua mão para a
dádiva em forma de fruto.
Jesus fala com
autoridade; sua resposta é firme. Diferente de Eva, Ele não debate com Satanás.
Ele não chama um exército de anjos para expulsar o diabo. Ele não usa seu
divino poder, pois está vivendo no mundo como o Servo sofredor de Deus.
A única arma que
Ele usa é a espada do Espírito, a Palavra de Deus. Jesus coloca-se em nosso
nível.
Se a Bíblia é
suficiente para Ele, não o deveria ser para nós? “Está escrito” deveria ser
nossa única e suficiente resposta às tentações de Satanás. E quanto a você?
Você vive do pão terreno, ou fazer a vontade do Pai e viver pela verdade e pelo
poder da sua Palavra é o seu “alimento necessário” (Jó 23.12)?
Lança-te
daqui abaixo
Depois, o diabo
leva Jesus ao topo do templo, na Cidade Santa – o lugar mais sagrado em toda a
terra. “Se és Filho de Deus, atira-te abaixo”, o diabo diz. Ele cita Salmos 91.11-12,
dizendo que os anjos vão proteger Jesus se Ele pular. Em um momento, Cristo
seria então reconhecido por todo o mundo religioso como o Filho de Deus.
A tentação para
Cristo é revelar-se a Israel em um estonteante show de poder e de
privilégio sobrenatural em vez de através do caminho do sofrimento e da
rejeição, como o homem
de dores. O
diabo está oferecendo a Jesus um atalho em vez de uma longa rota de sofrimento
e morte.
Isto não era uma
tentação pequena, pois Jesus queria revelar-Se como o Messias. Entretanto, Ele
sabia que seguir a sugestão do diabo traspassaria a vontade de seu Pai, que
determinava que o Filho teria de primeiro sofrer e, depois, ser glorificado. A
exaltação de Cristo viria, mas somente após sua
obra consumada e
terminado o seu estado de humilhação. Portanto, Ele disse ao diabo: “Também
está escrito: Não tentarás o Senhor, teu Deus” (4.7). Desta vez, Jesus está
citando Deuteronômio 6.16, referindo-se às tentações de Israel, em Massa, onde os
incrédulos filhos de Israel exigiram
uma prova
sensacional de que o Senhor estava entre eles (Êx 17.7).
Hoje, muitos
estão ainda buscando sinais maravilhosos e maravilhas do poder divino, mas
Jesus ainda se recusa a dar um show. Ele não usa de meios carnais para
ganhar seus seguidores. Ele não veio para o sensacionalismo.
Ao invés disso,
Ele continua em sua obra de convencer, salvar e disciplinar, através de sua Palavra
e pelo poder do Espírito no coração dos pecadores, trazendo-os à semelhança a
Ele Mesmo – o que é
a maior “maravilha”
de todas.
Prostra-Te
e adora-me
Finalmente, o
diabo leva Jesus a uma alta montanha. Mostra-Lhe todos os reinos do mundo e
diz: “Tudo isto te darei, se, prostrado, me adorares” (4.9). “Todos os reinos” –
que tremenda reivindicação! Em seus próprios termos, o diabo tem a audácia de oferecer
a Cristo todos os reinos da terra, como se ele fosse senhor de direito sobre
todos os reinos. Lutero escreve: “Ele que, em sua primeira tentação, mostrou-se
como um diabo preto, e, na segunda, como uma luz, um diabo branco, usando até
mesmo a Palavra de Deus, agora se mostra como um diabo divino, majestoso, que
reivindica ser o próprio Deus”.
O diabo pode ser
o príncipe deste mundo, pode até ser o deus do mundo, no tempo presente, mas
Deus é Rei para sempre. Como Salmos 24.1 diz: “Ao Senhor pertence a terra e tudo
o que nela se
contém, o mundo e
os que nele habitam”.
Esta é a última
cartada do diabo. Em desespero, ele pensa: “Se apenas eu pudesse ter Jesus, mesmo
por uma vez, para realizar um pequeno gesto de adoração a mim em vez de ao Pai,
eu ganharia a vitória e, de fato, me tornaria o rei deste mundo”.
Ainda hoje
enfrentamos a tentação de vender nossas almas ao diabo em troca de vãos
prazeres e dos tesouros deste mundo. Temos de resistir ao diabo, citando
Deuteronômio: “Retira-te, Satanás: porque está escrito: Ao Senhor, teu Deus,
adorarás, e só a ele darás culto” (v. 10). Jesus novamente recusa-se a obter
uma coroa, sem suportar a cruz.
Nossa
vitória em Cristo
Que contraste
entre Mateus 4 e Gênesis 3! Cristo é vitorioso quando tentado pelo diabo em um
deserto árido, e Adão falhou quando tentado pelo diabo em um lindo jardim.
Cristo é vitorioso com o estômago vazio, estando sem comer por 40 dias (Mt 4.2),
e Adão falhou de estômago cheio, sendo capaz de comer livremente de toda árvore
no jardim, exceto de uma. E, como colocou o New England Primer: “Na
queda de Adão, nós todos pecamos”.
Mas, graças sejam
dadas a Deus, pois Jesus superou o diabo, de modo que também podemos
vencer o diabo.
Em Cristo, pela fé,
somos chamados a viver pela Palavra de Deus, e a resistir ao diabo, usando a
mesma arma poderosa, a Palavra de Deus. As tentações são muitas, e o poder do pecado
é grande, mas a vitória é prometida àqueles que se apegam fortemente à “palavra
de Deus, a qual vive e é permanente” (1 Pe 1.23).
Seremos
controlados ou por Satanás, ou pelo eu, ou por Deus. O controle de Satanás é
escravidão; o controle do eu é futilidade; o controle de Deus é vitória.
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